Coleção Momentos & Sentidos (Fábrica de Chá Gorreana)


O chá tornou-se um dos emblemas dos Açores e muito concretamente de São Miguel. Os campos da costa norte da ilha grande – onde se situam as plantações da Gorreana e da fábrica do Porto Formoso (as fábricas sobreviventes das 10 que terão existido nos inícios do século XX, reza a História) – são uma das paisagens incontornáveis para os encantados visitantes. A vastidão das plantações de camellia sinensia (é assim que se chama a planta do chá) na freguesia do Porto Formoso é dos passeios imperdíveis em qualquer roteiro micaelense.

A leitura de A História do Chá em São Miguel (Século XIX), de Mário Moura (Edição do Município da Ribeira Grande), é a melhor recomendação que se pode fazer a quem queira conhecer as raízes do chá da ilha verde. Desde logo para desmentir a ideia, vendida ao longo de décadas, daqueles se tratarem dos únicos campos de chá da Europa. Já nem o são mesmo em Portugal, onde a aventura de Nina Gruntkowski e Dirk Niepoort em terras de Vila do Conde (Chá Camélia) merece também ser seguida com atenção. Não, a singularidade e qualidade do magnífico chá de São Miguel não assenta nesse facto, que nem sequer é real.

O que parece assente é que foi José do Canto (1820-1898, grande proprietário, intelectual e botânico açoriano) o “pai” do chá em São Miguel, ainda na primeira metade do século XXI, embora a primeira temporada mais “a sério” do chá açoriano tenha ocorrido apenas em 1878, já depois da presença no terreno de alguns especialistas chineses. Naquela obra, Mário Moura atribui mesmo a uma escolha pessoal de José do Canto a opção por esta cultura, aliada à tentativa de aproveitar uma terra fraca e desaproveitada, naquele recanto nortenho.

Há, pois, toda uma História que merece ser conhecida por trás deste chá. Mas o mínimo que se pode dizer é que a histórica fábrica da Gorreana chegou ao século XXI com uma pujança que é de assinalar, com uma capacidade de inovação que se deve registar, ainda que preservando a História, os métodos de fabricação ancestrais e, mais importante ainda, continuando a fazer chá de muita qualidade, que merece ser conhecido e degustado.

Prova dessa capacidade de inovação – até em termos de imagem – é, nestes momentos de crise anímica e económica global, o lançamento da nova Coleção Momentos & Sentidos 1883.

São 9 chás verdes em folha (como devem ser todos os chás!), com combinações altamente sugestivas, ainda que de resultado desigual, e que não deixarão de horrorizar os puristas (mas, falemos com franqueza, para que servem os puristas senão para serem horrorizados?): chá verde com ananás, chá verde com ananás e canela de Ceilão, chá verde com hibisco, chá verde com lúcia-lima, chá verde com anis, chá verde com salsa, chá verde com poejo, chá verde com erva príncipe e chá verde com menta, limão, stévia e canela de Ceilão.

Os chás que compõem esta coleção já são encontráveis nalgumas muito estimáveis lojas de produtos açorianos no continente. Mas se querem um conselho amigo, para continentais mais pacientes e poupados, o melhor é mesmo encomendá-lo diretamente no site gorreana.pt.

Degustemo-los com o carinho que merece o chá de São Miguel. Além do mais, é bem sabido não há nada pior na vida do que falta de chá! 

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