Açaflor, açafroa ou o virtuoso bastardo



Carthamus tinctorius. São ribombantes alguns nomes científicos, como este que designa a açafroa, esse respeitável condimento da gastronomia açoriana, também conhecida pela designação, não tão simpática, de açafrão bastardo.

A açafroa é, pode dizer-se, uma económica aproximação (e não se peça mais do que isso) ao caríssimo açafrão, com quem compartilha características, embora (muito) menos intensas. Não a comparemos ao açafrão, porque não faria sentido e não seria justo, mas é, ainda assim, uma componente valorizadora de muita da estimável comidinha açoriana, isso é certo, sobretudo em caldos e molhos, substituindo com muito boa nota condimentos como a paprika (colorau) ou o pimentão doce, deixando um elegante traço fumado nos preparados.

Quem já viu colher a açafroa e o esforçado e espinhoso trabalho que dá, lá pelos idos de julho e agosto, não pode deixar de ter em boa consideração esta nossa açafroa (ou açaflor). Espinhoso é o termo, pois esta é uma planta que não põe as coisas simpáticas para quem colhe as suas flores, e nem o segredo de fazer a colheita de manhãzinha (quando os espinhos estão menos acerados) evita algumas dolorosas consequências.

Saiba quem nos lê que este dito bastardo do açafrão é prenho de qualidades, para lá do sabor que acrescenta aos mais variados preparados gastronómicos, tendo variadíssimas utilizações medicinais, desde redutor de doenças coronárias e combatente ativo do colesterol, até funções analgésicas e antibacterianas. Virtuoso bastardo, pois. Tratemo-lo antes pela bem mais simpática formulação de açafroa, pelos seus méritos. Açafroa que também tem no seu meritório curriculum, ainda antes da sua vocação culinária, a utilização nas artes da tinturaria (tinctorius, lembram-se do nome científico com que abrimos estra prosa?).

Uma vez colhidas as flores precisam ainda de ser secas ao sol, antes de estarem prontas para utilização e serem disponibilizadas sob duas formas, ou em pequenos filamentos avermelhados, que são os filamentos das flores depois de secas, ou transformadas em pó, com um tom mais alaranjado, que transmite aos cozinhados, um bom caldo de peixe, por exemplo.

Um sabor com que vale mesmo a pena travar conhecimento palatal e manter nos nossos frascos de condimentos, suficientemente à mão para utilização amiúde. 



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