A divina Graça das queijadas da Vila


Gemas e açúcar, açúcar e gemas. A doçaria conventual é, certamente, um dos traços mais marcantes da gastronomia portuguesa e os Açores também não escaparam à sua geografia, designadamente por obra e certamente divina Graça das freiras clarissas do Convento de Santo André, que reza a História terem sido as “inventoras” das queijadas de Vila Franca do Campo (ou simplesmente queijadas da Vila), que é o que hoje aqui nos traz. 

As queijadas da Vila são um bom exemplo dessa perigosa mistura entre sagrado e tentação que conflui na, chamemos-lhes assim (perdoai-nos, Senhor…), “pecaminosa” doçaria conventual portuguesa, cujo ponto de partida assenta sempre na, tão boa como bombástica, fusão entre gemas e açúcar, espinha dorsal do receituário doceiro de qualquer convento que se preze.

São indiscutivelmente um dos grandes ícones da doçaria açoriana, estas queijadas, cuja designação terá resultado do facto do leite que abastecia o Convento de Santo André ser proveniente dos queijeiros de Vila Franca do Campo, ao tempo a capital da ilha de São Miguel. Mas o contributo dos queijeiros não ficaria por aqui.

Para a elaboração do recheio desta pequena tentação em forma de bolo há que registar também a presença do coalho, como se sabe um produto essencial na produção de queijos, e que, como o próprio nome indica, permite coalhar o leite, que é o ponto de partida da queijada da Vila. A esta base juntar-se-ão ovos (na proporção de um ovo inteiro, para cada seis gemas), açúcar, um pouco de manteiga e farinha para cozer só até começar a ferver. Esta mistura, que é depois passada por um passador fino, antes de descansar uma noite no frigorífico, será o recheio destas nossas queijadas, de terras de Vila Franca. 

Terra abençoada por Deus, desde logo pela presença das freiras seguidoras da Regra de Santa Clara.  Mas também pela Mãe Natureza, que lhe concedeu ter ali à vista uma das maiores preciosidades que todos os sentidos já sentiram, verdadeiro pináculo da criação vulcânica, o maravilhoso ilhéu. O ilhéu e as queijadas, que mais se poderia pedir? Ditosa Vila Franca. 

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