O gin Goshawk ou o esplendor da botânica açoriana

De remédio diurético, função para que foi criado em 1650 pelo médico holandês Francisco De La Boe, a bebida da moda, longa vida tem o gin, esse verdadeiro tónico para tantos. Primeira ideia (des)feita para muitos de nós: o gin nasceu na Holanda (o nome “gin”, aliás, será uma corruptela de “genever”, que significa zimbro naquela que é uma das mais enroladas Línguas do mundo…) e não em Inglaterra, mas são os ingleses os principais responsáveis pela sua popularização, de tal forma que muitos honrados bebedores se sentiriam tentados a atribuir-lhes a invenção desta beberagem. Mas não, honra e crédito ao dr. De La Boe, holandês de lei de meados do século XVII.

E o que faz aqui o gin, num espaço dedicado aos sabores dos Açores? Durante muito tempo a associação mais óbvia que se fazia entre gin e Açores devia-se ao mítico Café Sport, na cidade da Horta, ilha do Faial, imortalizado como Peter ou Peter’s Café. A verdade é que o Peter é uma lenda e, dentro da lenda, outra fora criada: o seu gin-tónico fixou-se como um incontornável ponto obrigatório de qualquer decente roteiro açoriano. De tal forma que, aquando da realização da Expo 98, em Lisboa, a capital viria a receber uma extensão do Café Sport, tentando reproduzir o irreproduzível, que permaneceu em funcionamento muito para além da Exposição Mundial. A verdade é que aquele gin-tónico sabia como nenhum outro, mas também não é menos verdade que é mesmo “in loco”, naquela marginal Rua José Azevedo, com vista para o Pico, que ele continua a saber pela vida.

Mas os Açores não ficaram alheios à “explosão” – dir-se-ia mesmo uma certa moda instalada - que a produção nacional de gin teve nos últimos anos. E, se o zimbro é o elemento incontornável de qualquer gin (ao ponto de lhe ter dado o nome, como já se viu…), a verdade é que o gin é resultado de um “blended” botânico, devidamente destilado, que dá a personalidade própria a cada gin e o diferencia de outros. E bem se pode dizer que os Açores são terra botanicamente abençoada, pelo que nada mais natural que nos últimos anos tenhamos assistido ao nascimento de vários gins açorianos. E bons.

É o caso da paleta de gins da marca Goshawk (Açor, em inglês…), com origem na conhecida fábrica de licores Eduardo Ferreira & Filhos, da Ribeira Grande. Seja o Premium, para os mais puristas, sejam as variantes mais frutadas que resultam de combinações com os licores da casa (tangerina, ananás, maracujá), a sua degustação faz inteiramente jus ao esplendor botânico dos Açores, aromáticos e com nuances várias.

Esplendor palatal é, pois, do que se trata com a soma de uma boa água tónica, gelo q.b. e tudo aquilo (bagas de zimbro, flores de anis, alecrim…) que possa valorizar um bom gin, como este. Mas, minhas senhoras e meus senhores, há que dizê-lo: uma rodela de limão galego (que está incluído na mistura botânica alvo da destilação no Goshawk) nesse preparado faz sempre milagres! Essa é que é essa.