O Morro, pasta mole e valor firme
Há queijos assim, que parece impossível não gostar. Como este
O Morro, saído da azul ilha do Faial, que se tornou desde o seu ponto de
partida, em 2012, um dos valores mais seguros da queijaria açoriana e nacional,
que trilha também já os caminhos da exportação, sobretudo depois da sua
colocação no quadro de “elite” por essa espécie de Bíblia do globalizado mundo
do vinho que é a Wine Spectator.
Durante muitos anos, o queijo de leite de vaca foi bastante
subvalorizado em Portugal, sempre tentado em reduzir o bom queijo nacional ao
leite das ovelhas da serra da Estrela, de Serpa e de Azeitão. Uma terrível
injustiça, desde logo ao excluir do quadro de honra os bons “queijos da ilha”,
a começar pelo de São Jorge, DOP. Há que afirmar que a chegada de O Morro foi
um belo contributo para começar a desfazer aquela verdade instalada nalguma
“intelligentsia” queijeira nacional, hoje já bastante atenuada.
Desde logo pela sua consistência amanteigada, com um
levíssimo “pico”, que muitos consideravam não ser associável a um queijo de vaca.
A primeira vez que dei O Morro – em perfeito estado de “entorna” - a provar a
um amigo, foi muito difícil fazê-lo acreditar que se tratava de um queijo de
vaca e até, imagine-se, que não tinha cardo na sua composição…
O Morro é indiscutivelmente um belo de um queijo, sobretudo
nesta sua modalidade de pasta mole (o “soft cow milk cheese”, do seu rótulo de
exportação para o mercado norte-americano). Concentremo-nos nesta versão ou no
envelhecido, e também no fresco (apenas consumido localmente), que são os
realmente genuínos, que valem mesmo a pena e de que rezará a História, do
pequeno elenco produzido pela Queijaria O Morro.
Produzido artesanalmente, em escala relativamente reduzida, O
Morro é um hino às vacas faialenses, de meia dúzia de produtores fiéis à queijaria
dos dois irmãos Caldeira. Podemos chamá-lo um
queijo consensual, sem qualquer tipo de agressividade especial, que não precisa
de palatos especialmente educados para agradar, o que em nada diminui a sua enorme
qualidade. Trata-se de um daqueles queijos que percebe muito bem feito, e se
consegue consumir todos os dias, mas que também enriquece qualquer tábua em dia
de visita de alguém de quem se goste.
Um magnífico – que já ganhou mesmo o estatuto de incontornável – sabor dos Açores. Em resumo, um valor firme de pasta untuosa, que se espera que assim se mantenha.
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