A malassada e a diáspora



Sim, é verdade que o Carnaval (lembram-se dele?) já lá vai, e que este ano “nem a vida são dois dias, nem o Carnaval foram três”, mas façamos como o poeta que cantava que “Natal é sempre que um homem quiser”. Ora, o Carnaval também pode ser e uma boa maneira de o prolongar é através das deliciosas e afilhosadas malassadas, o sabor açoriano tradicional da temporada carnavalesca, que é tema destas linhas e que é um belo pretexto para outras conversas.

Um pretexto que pode começar por um episódio da série policial “Havaii Five O” (Hawaii Força Especial, na versão portuguesa), em que dois dos protagonistas se deliciam com uma “malasada”. Humm, teremos ouvido bem, “malasada”? Sim, muito bem, em mais uma muito simbólica demonstração da importância da diáspora açoriana. Falar da “malasada” é também perceber a importância da emigração de açorianos, sobretudo micaelenses, para as ilhas hoje conhecidas por Hawaii, outrora ilhas Sandwich (sim, Sandwich!), onde ainda agora parece não ser difícil, através de uma mera consulta às listas telefónicas, encontrar apelidos como Bettencourt, Pracana, Câmara e outros que tais.

A verdade é que, no último quartel do século XIX, o Hawaii foi destino grande de emigração açoriana e madeirense. Entre 1878 e 1884 terão emigrado para o Hawaii cerca de 6300 açorianos, a maior parte com origem em São Miguel. Mas mesmo quando começaram a chegar esses emigrantes, a verdade é que já lá estariam instalados entre 400 a 500 portugueses, na sua esmagadora maioria açorianos, baleeiros e descendentes de baleeiros da frota da Nova Inglaterra. Emigrantes que levaram consigo elementos que ainda (ou já…) fazem parte hoje da realidade havaiana, desde o cavaquinho (o ukelele havaiano) à massa sovada (sweet bread), passando pela nossa mui estimada malassada (malasada).

Eis, pois, como nos pode levar tão longe essa açoriana combinação frita de farinha, ovos, açúcar, leite, fermento (que podem ser enriquecidos com um pouco de aguardente), polvilhadas com açúcar e canela a gosto, afinal na melhor linhagem das filhoses do continente português, e que são um ex-líbris do Carnaval das ilhas de bruma. E que bem que elas sabem! Não admira que tenham dado a volta ao mundo.

O Carnaval é sempre que um homem quiser saborear. Viva a malassada! Long live, malasada!

 



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